Retrato de D. Helena Dulac Pinto de Miranda
O retrato com figuras em tamanho natural, enquadrado por um rectângulo com fundo opaco, que se fecha em torno da retratada, foi moda no final do século dezanove e princípios de novecentos. Exemplos esplêndidos encontram-se nas realizações de Whistler, Klimt ou J.S. Sargent que se apropriaram desta tradição académica para introduzirem valores modernos. Tais situações permitem confrontar e entender, no presente caso, os limites e as possibilidades da moderna pintura nacional da época.
A figura branca da retratada recorta-se sobre o fundo e chão, cuja inclinação frontal do plano, que impõe uma moderna sobreposição do pictórico a um espaço de representação naturalista, permite uma correspondência e circulação do enquadramento global, servido por uma paleta rica em cor. Uma preocupação decorativa está presente nos próprios motivos florais que encontram uma rima no bouquet que a retratada segura. O sombreado do lado esquerdo do vestido vem activar a volumetria e a sugestão de qualidade do tecido que em grande parte a silhueta branca dilui e planifica. De resto este aspecto profundamente moderno foi uma intermitente e esporádica preocupação nos retratos do artista, sobretudo se atendermos ao Retrato de senhora de preto da Casa Museu Anastácio Gonçalves.
A carnação e o conjunto da figura revelam um bibelot em porcelana, metáfora de um gosto fim-de-século, que Eça de Queirós descreveu e António Ramalho, seu admirador confesso, pintou enquanto retratista primeiro da sua geração, se exceptuarmos o particularíssimo caso de Columbano.
Pedro Lapa